As escolas de educação infantil, de um modo geral, seguem mais ou menos o mesmo esquema. Do momento em que a criança entra na escola até o final do período, têm atividades previamente programadas. Como se não bastasse tudo isso, desde que nascem as crianças têm à sua disposição uma infinidade de brinquedos de todos os tipos e cores, que produzem os mais variados sons, etc.
Os pais fazem isso com boa intenção, mas o exagero na quantidade de brinquedos produz o efeito oposto do que pretendiam: em vez de interessar a criança, esse arsenal de objetos lúdicos acaba por cansá-la e fazer com que não tenha interesse real por nenhuma daquelas coisas. Ter brinquedos não garante à criança o ato de brincar e ter muitos leva a não dar atenção a nenhum. E não temos reclamado da atenção dispersa, mais tarde?
Quem vê uma criança brincar por muito tempo com um de seus brinquedos? Em geral, o comportamento dela é pegar e descartar vários, muito rapidamente. É bom lembrar que quando a criança tem muito brinquedos não tem nenhum deles porque, ao pular de um para o outro, não consegue construir uma brincadeira. Temos criado, dessa maneira, crianças que se entediam com muita facilidade.
As férias são uma boa ocasião para os pais saírem da cena tipicamente infantil. Claro que isso não significa abandonar a criança, já que ela teve poucas oportunidades de ser empreendedora em suas brincadeiras. Dar algumas pistas, lanças poucos desafios são exemplos de ofertas que não gerenciam, tampouco desamparam a criança em sua demanda.
Conheço uma mãe que tem conseguido, não sem esforço, levar sua filha a criar suas brincadeiras e ficar bastante tempo interessada nelas. Sua atitude pode servir de inspiração, mas não de modelo. Ela sugeriu à garota, de pouco mais de oito anos, que construísse uma "caça ao tesouro", brincadeira bem conhecida pelas crianças.
A garota ficou totalmente concentrada na atividade porque a mãe dissera que, se as charadas fossem fáceis, ela não brincaria com a filha. A estratégia da mãe funcionou: a filha ficou ligada na brincadeira e a mãe gastou pouco mais de 10 minutos, à noite, para participar com a filha e fazer sua parte.
Digo e repito: temos feito uma grande confusão na convivência com as crianças. Fazemos o que não precisa ser feito e deixamos de fazer o que é imprescindível. Já é hora de revertermos esse quadro.
Reportagem retirada do jornal Folha de São Paulo
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